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quinta-feira, abril 12, 2012

José Luis Madeira, o adeus do guardião de fotos

Gostava muito dele. Do José Luís Madeira que nos deixou ontem.

Gostava dele e ontem senti como o sentia amigo. Fiquei muito triste com este seu adeus.

 Gostava dele embora discordasse muito da sua visão sobre alguns lados da fotografia.

Não tinha a minha "escola" fotográfica, não partilhávamos os mesmos mestres, as mesmas referências. Acho que chegámos a discutir com vivacidade sobre isso, talvez durante um daqueles jantares na Trave, no Snobe, em casa da Joana ou na minha casa antiga.

O José Luís Madeira era um aristocrata na sua forma de ser e viver. Tinha um charme e um sentido de humor caustico que eu muito apreciava.
Podíamos discordar a falar de fotografia mas logo nos ríamos imenso a dizer mal deste ou daquele que faria parte de um grupo modista de artistas.
Má língua da boa. Com inteligência e nunca levando a vida demasiado a sério, embora com seriedade.

Acho que as primeiras vezes que o vi, nos anos 80, andava ele com uma Hasselblad e de fato branco. Acho que foi em frente à Leitaria Garrett do Chiado onde parava o Vitorino e outros loucos que vinham da Escola de Belas-Artes. Passámos muitas noites na conversa.

O José Luís sabia sempre qualquer coisa de novo e gostava de nunca revelar tudo o que sabia. Houve uma frase dele que ainda hoje uso muito em tom de ironia:" São cá uns enredos doutora que não lhe digo nada!". Dizia trocando o "r" pr um "g". Muito querido.

Tenho uma fotografia dele ( que não encontro já para aqui postar) feita nos claustros de Alcobaça com O João Bafo e o Carlos Gil. Também já desaparecidos no combate da vida.

Acompanhei-o na sua grande obra que foi recuperar a Casa-Estúdio de José Relvas na Golegã no final dos anos 70 e depois em algumas das suas andanças por estúdios antigos a recuperar espólios que acabaram no Arquivo do Palácio da Ajuda. Foi ele que me convidou para fazer uma grande exposição no Palácio da Ajuda nos já distantes anos 80.

A última vez que o encontrei foi há 2 anos(?) na Golegã. Entrei naquele café histórico onde já lá tinha estado com ele e vejo-o ali. Senti aquilo como uma coisa do destino. Foi a última vez que o vi.
Que tempos aqueles José Luís Madeira! Que tempos!

foto de Guta de Carvalho

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